Excertos

Psicologias – Uma Introdução ao Estudo da Psicologia

Excerto da Resenha Crítica da Obra “Psicologias” de Bock et. al., publicada pela editora Saraiva-São Paulo, em 2009

 

À semelhança da religião cristã, toda a ciência é, a bem dizer, uma-a-uma, e todas elas conjuntamente, maravilhosas creações* filosóficas. E ela [a filosofia] orgulha-se delas [as ciências] na medida em que promovem a libertação do homem pelo conhecimento da verdade, liderando a elite da humanidade na sua marcha rumo à emancipação final de ignorância e erros milenares, (Rohden, 2011).

Dito isto, não referimo-nos à uma relação de Irmandade nem de Miscigenação, entre ciência e filosofia. Não! Referimo-nos à uma relação de Maternidade; porém longe de qualquer concepção Tirana ou Matricida, como pretenderam alguns Iniciados à Episteme, no decurso da própria história.

Há de entre as ciências, uma que ainda carrega vestígios muito visíveis que denunciam seus vínculos familiares com a mãe. Essa ciência cujos precursores ainda revelam-se sagazes pensadores, capazes de construir conhecimento, e não perpetradores de uma escola especializada em ordenar e classificar a realidade: essa ciência, é a ciência Psicológica.

Há também, dentre os críticos, por um lado, aqueles que transformam a crítica especializada num aglomerado de elogios; se por solidariedade ou por falta de conhecimento multidisciplinar de ciências sociais, seus pressupostos e a mais perfeita formação estética, – ignoramos!, à obra apreciada, (Macedo, J., 2010); e de outro aqueles que, vítimas de pressupostos de ordem subjectiva, não conseguem separar o artista de sua arte. Ou melhor, o homem do artista, ou, a bem dizer, o criador de sua criação.

Com isto esclarecemos que nossa apreciação é da obra, e não de seus autores. Isto é, a crítica que nos propomos empreender neste ensaio refere-se à obra, ao texto, ao pensamento desses pensadores refletido na obra em abordagem, e não à eles em si. Que esta pretensão, este experimento próprio de quem já tenha alcançado certa maturidade intelectual, capaz de resistir à pressão opinativa de sua voz interior, de seu eu singular; sirva de exemplo, para quem realmente pretenda plantar uma árvore, ou pelo menos regar algumas plantinhas nos canteiros da Crítica Especializada.

Assim, ao longo da nossa narrativa utilizamos os termos Psicologias, Obra, Texto, e alguns outros mais que pudessem subentender o protagonismo dos autores, pois criticamos pensamentos e não pensadores. Ademais, ensejamos ter o nosso texto julgado com o mesmo juízo com que julgamos a obra psicologias, de modo que não sejamos testados para além do que nos foi dado a suportar, e assim seja feita a justiça, e a Lógica dos juízos prevaleça sobre a Dialética das objeções.

Um espectro ronda a terra – o espectro do eu subliminar. Todas as seitas da velha crença unem-se para conjurá-lo: a mãe e seus filhotes; os fundamentalistas da antiga aliança e os radicais dogmáticos da África, (Marx & Engels, 1848). Esses filhotes ignoram o vínculo sanguíneo que os mantém, muito inocentemente, fiel à progenitora. A reforma luterana não se consumou – não há protestantismo, numa palavra, sois todos filhos da santa igreja.

Primeiro pretendeu Platão que a ideia fosse superior ao corpo – amou o espírito, subjugou a carne. Aristoteles não pôde raciocinar para além dos limites impostos pelo mestre: Platão determinara o que anima, Aristoteles só precisava ordenar e classificá-lo. Pobre filósofo! Objecta Voltaire – Vês uma planta que vegeta, e dizes vegetação, ou alma vegetativa. Notas que os corpos têm e comunicam movimento, e dizes força. Vês teu cão de caça aprender contigo teu ofício, e crias instinto, alma sensitiva. Tens ideias combinadas, e dizes espírito.

A Ideia de Platão é coroada – baptizada “anima”. A alma olha para o corpo com desdém. Um novo mundo floresce. O equilíbrio entre corpo e alma é anulado – o imaterial deve prevalecer sobre o material, numa palavra, a alma é superior ao corpo e o que é superior deve reinar sobre o que é inferior: Mandatary. Os judeus adotam esse dogma; os cristãos irão santificá-lo. Imortal, substância pensante, porção do Divino, movedor movível, inato, livre, imaculado, enfim, numa palavra, toda uma teologia é criada em torno do eu subliminar. Genealogia da Alma – da infância à adolescência da psicologia.

Inicialmente, importa considerar que o tema Psicologias deve-se justamente à diversidade do universo da psicologia. Universo esse, cujo saber é fundamental para o aprendizado da ciência psicológica. Assim, PSICOLOGIAS não é mais que uma introdução ao estudo da Psicologia, apresentada em seus vários aspetos: história, temas básicos, áreas de conhecimento, principais características da profissão, análises de temas quotidianos (vistos sob a óptica da Psicologia), e outros. Estudo esse que dessacraliza o universo da alma – historifíca-o, humaniza-o. Ridiculariza qualquer processo de deificação do homem. Sugere, fidelidade à Terra.

É regozijador testemunhar que o pensamento crítico ainda está presente na ciência, pelo menos em parte. Este pensamento descomprometido resulta no conhecimento que temos de nós mesmos e de nossa capacidade de conhecer, condição necessária ao conhecimento do mundo.

Ora, na contemporaneidade são raros os psicólogos que ainda cultivam essa atitude psicológica, por assim dizer, uma vez que partem da herança psicológica como algo pronto, perfeito e acabado, depreciando, então a doutrina da contrariedade, que é, em si fundamental. Isto é; quando levamos alguém a buscar a raiz de certo trauma, é preferível, ter confrontado, já em ambiente académico, por exemplo, duas técnicas: a hipnose e a introspeção, ao invés de simplesmente tomar uma delas como ideal e doutriná-la como se não houvesse outras alternativas.

Esta tendência, porém, encontra um obstáculo em psicologias, que pretende ser o alicerce de uma reforma ou até mesmo de uma revolução no universo da psicologia. Esta pretensão é necessária, uma vez que suas consequências consolidam o compromisso da psicologia com a sociedade, sociedade humana – Mankind; e não um mero coletivo elitista ou raleísta.

Nisto, a obra resenhada alcança a plenitude dos objetivos preconizados.

Este ganho é já uma porta, ainda que fechada, um caminho seguro para o progresso da humanidade, uma vez que esta não sabe andar às cegas. De resto, é quase que forçoso, que cada um, seja professor, seja aluno, seja quem for, possa abstrair dessa obra as ferramentas necessárias para melhor vivenciar seus relacionamentos tanto pessoais como profissionais, e ser, assim, um cidadão mais apto e útil para a vida em sociedade.

A construção social do suicídio não pôde passar despercebido, pois ao responsabilizar a sociedade por fenómenos que ainda são commumente pensados como fatos intrínsecos ao organismo, psicologias sugere às sociedades a verificarem a forma como se constituem e a encararem o suicídio como consequência do seu fracasso como entidade responsável pelos desígnios de cada indivíduo em particular e do coletivo em geral.

Tudo é histórico! – Proclama Psicologias. E, com isto, fica a ideia de que compreender os fatos sociais como produção de coletivo de indivíduos, e nunca de indivíduos em si, é compreender a historicidade desses mesmos fatos, é observá-los mediante sua dimensão histórica, e daí erigir soluções terrenas para problemas terrenos.

Que mais se pode dizer!

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* Manifestação da essência em forma de existência.

Autor: Domingos Bengo, 2014

Editor: Cefal, 2019

Fonte (Texto Integral): Psicologia – Introdução, RC 

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